domingo, julho 31, 2005

Saudades

É uma palavra difícil de descrever. É um sentimento forte que une amor e dor. E é lá, bem no meio, dentro mesmo do coração que isso acontece. Neste fim de semana as saudades bateram. Vieram me visitar. Não que elas tivessem saído de dentro de mim, não. Elas ficam ali, guardadinhas. Às vezes, elas aparecem do nada. Mas não foi o caso. Uma sessão nostalgia me deixou assim. Fotos, cartas, cartões antigos. Não me fez mal. Só me deu saudades.

Saudades das conversas e do amor intenso do meu Ditan.
Saudades dos carinhos e da comida da Fofinha.
Saudades das brincadeiras e dos cuidados do meu tio Zezé.
Saudades da carinha boa e dedicada da minha bisa, Cecília.
Cada um ocupa um lugar especial na minha vida.

A "vó" Cecília, minha madrinha, era uma velhinha simpática. Não me lembro de muitas histórias ao lado dela. Mas lembro do seu rosto. Da casa dela, do quintal. De Jacareí. Dos biscoitos de lá. Dos fuxicos. Da cadeira de balanço. Não é mãe natural de minha vó. Mas cuidou dela. Dizem que era um pouco severa, mas não acredito que tenha sido malvada. Bem, para mim não era. Tinha cabelos branquinhos... uma mão bonita...

O tio Zezé era meu padrinho. Um amor de pessoa. De coração enorme, imenso. Tirava dele para dar para mim. Era vaidoso, bonito. Um belo homem. Adorava brincar comigo. Quando morava em minha casa era disputado por mim e pelo meu irmão menor - para ver em qual quarto ele ia dormir. Quando dormia comigo, era uma festa. Antes de deitar, ele deixava bilhetes de amor assinados por meus ídolos na época... e eu, assinava bilhetes de amor apenas de mulheres feias, as que hoje em dia a gente chama de trubufu... coitado!! Todos os dias me acordava, dava meu café e me levava até o ponto do ônibus ou na casa de um amigo, para eu ir para escola. Sinto muito a falta dele. Era iluminado.

A Fofinha. Era a vó predileta. A vó pequena e fofa. Cozinhava maravilhas... cuidava de todos nós. Era engraçada... Quando eu era "pequenina", adorava acompanhá-la nas clientes. Ela era costureira. Bem, a viagem de ônibus, saindo da Vila Carrão para ir à várias casas na Liberdade e Aclimação me deixavam cansada. Mas eu era recompensada com presentinhos que as clientes me davam... eu não entendia patavinas do que as japonesas falavam... mas minha vó traduzia... Sinto falta também das idas ao largo do Carrão, na loja do Gordo. Das noites que dormia em sua casa... é uma pessoa que faz muita falta. Dos domingos. Na minha infãncia, o domingo era sagrado. Na casa da Fofinha. Eu acho que ela unia a minha família. Eu adorava enché-la de beijos, só para vê-la reclamar... "que menina grudenta!" No fundo era só da boca para fora. Era uma vó maravilhosa... adorava ter os netos por perto.

O Ditan. Meu avô. O meu grande amor. O primeiro homem que fui apaixonada. A pessoa que, com certeza, faz mais falta em minha vida. Eu era seu xodó. Era meu fã número 1. Não conheço e duvido que um dia vá conhecer alguém como ele. Não tenho palavras para descrever como era o nosso romance de avô e neta. Era algo fora do normal. Um amor único,verdadeiro. As lágrimas caem de meus olhos só de lembrar da figura dele. Eu adorava comer o sashimi de atum preparado só para mim. De conversar com ele, ouvir histórias de quando ele era jovem, de quando conheceu a Fofinha. Me contava também as peripércias de suas 3 filhas. Foi um homem sensacional. Tinha alma de artista, mãos de trabalhador, rosto de homem tranquilo e feliz. É uma pessoa que ainda sinto perto de mim. Ele fazia pipas... que enfeitavam o céu da zona leste da cidade. Quando meu pequeno nasceu, uma pipa com uma estrela no meio, entrou no quarto dele. Foi como se o Ditan tivesse feito uma visita. Veio abençoar o meu outro maior amor. Tive a impressão de que ele esteve ali e foi como se tivesse me deixado nas mãos do meu filho. Foi como se tivsse dito: toma, cuida dela, que agora é sua... e já posso descansar. Nunca disse isso para ninguém. E é muito difícil escrever... choro, de saudades, de medo. Medo de não ter mais ninguém como ele no mundo. De não ter o amor de ninguém por mim - como tive o dele. Mas sei, dentro do meu coração, que em algum lugar lá em cima, ele está me vendo, torcendo por mim, puxando a minha orelha quando erro, me afagando quando preciso de carinho... Obrigada, Ditan!

Um dia encontrarei todos eles. Eu sei. Mas espero que demore. Afinal de contas, preciso cuidar da família que criei. Enquanto isso as lembranças acalmam o meu coração - que transborda de tantas saudades.