quinta-feira, agosto 04, 2005

Morte

Ultimamente este tema tem vindo a minha cabeça. Eu tenho medo da morte. Na verdade, tenho medo de tudo que é desconhecido. Uns dizem que é o começo de uma nova vida. Outros dizem que tudo acaba com ela. Fico imaginando se alguns vão mesmo para o céu e outros para inferno... e se existe mesmo aquelas imagens que temos na cabeça, de que no céu, todos se vestem de branco, andam por entre nuvens, cantam, dançam, são como anjos... e se no inferno, há fogo para todos os lados, seres vestidos de negro ou vermelho, andando para todos os lados com aquele garfo de 3 pontas na mão... sei lá. Sei que aceitar a morte é difícil. Ainda mais quando não é esperada e quando é trágica... Pior ainda quando se sabe que aconteceu com uma criança. Bem, vou continuar a escrever. Mas se não quer saber, é melhor parar de ler agora. (Viu, mamãe e Juju??)

Era um menino. Chamava-se Mateus. Tinha dois anos. Dizem que não era bonito. Pelo contrário. Mas bastava apenas 5 minutos ao lado dele para descobrir a beleza daquela criança. Esperto demais, agitado e muito sapeca. A vó dizia que ele era tão especial que, segundo ela, "não ia criar". Não iria viver muito tempo. Acho que a senhora é sábia e experiente. Ou tão sensível que já imaginava. Como sempre, a família, que vive no interior da Bahia, estava limpando um boi para fazer com as tripas uma comida, que era vendida para o próprio sustento. No fogão de lenha, um balde de água fervente. O pequeno, curioso, puxou o balde. Bem, não queremos, mas já dá para imaginar a cena. Soube que ele não deu nenhum grito. Ficou com corpo todo queimado - do pescoço para baixo. O hospital da cidade não tinha condições de cuidar da criança. Ir para Salvador, nem pensar, já que temperatura do garoto estava caindo. A família entrou em desespero. Não consigo imaginar a dor que esta criança sofreu antes de perder a vida. E agora, a dor da família de ter perdido um ser iluminado. Era filho único. O que será desta mãe agora? Eu não suportaria. Veja, não podemos crucificar ninguém. Não é culpa de ninguém. Pelo que soube, o pequeno Mateus sempre estava ali. E sempre a água era fervida para limpar o boi. Nunca aconteceu nada. E foi na terça-feira á tarde que tudo aconteceu.
Rezo para que o pequeno tenha encontrado seu caminho. Que seja uma das estrelas que vemos brilhar no céu. E que as lembranças e o amor deste anjinho, de alguma forma, acalme, o coração em pedaços daquela família - que luta muito para viver.

Soube disso tudo ontem. Mateus era sobrinho de Josephine, a babá do meu pequeno. É uma história verídica. Triste demais. Mas quantas histórias como esta a gente ouve sempre? Saber de algo assim muda alguma coisa dentro da gente. Não vamos pensar na tragédia e sim no aprendizado que isso pode nos trazer. Deus permita que minha vida continue como está. Que a ordem natural das coisas seja seguida...