quarta-feira, setembro 23, 2009

Doação de Órgãos III

Nesta terceira e última parte das matérias sobre Doação de Órgaõs, conheça a APAT (Associação para Pesquisa e Assistência em Transplante), que nasceu do amor do Dr. Tércio Genzini com a profissão e os pacientes que passaram pela casa - a espera de um transplante ou em tratamento. Fui recebida lá, numa tarde de frio em São Paulo, no mês de junho. Todos foram muito simpáticos comigo. Vale a pena ler e conhecer estas histórias de amor e superação. Boa leitura!!

Dedicação total a profissão
Por Márcia Moreno Placa


O médico cirurgião do aparelho digestivo, Tércio Genzini é um profissional dedicado ao transplante de órgãos. Quando ainda cursava a faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), ele participou de um grupo de acadêmicos, liderado pelo professor Alfredo Inácio Fiorelli, que iniciou a captação de órgãos em São Paulo. O grupo se reunia no Instituto do Coração com a intenção de procurar por pacientes com morte encefálica nas UTI´s dos hospitais da cidade para captar órgão e assim podiam realizar transplantes e salvar vidas. “Tive sorte de fazer parte deste grupo”, diz. Foi assim que nasceu o amor entre o médico e o transplante de órgãos. “É uma relação de casamento, onde o namoro foi na faculdade e a paixão veio com o início das atividades”, conta. Ele disse que é muito gratificante fazer um transplante e ver o paciente ficar bom. “É muito bom ver um paciente desfrutar de qualidade de vida, após o transplante”, diz. Dr. Tércio também afirma que a relação entre o paciente e o médico fica muito próxima. “O transplantado cria um vínculo eterno com o seu transplantador”. Deste amor pela profissão, nasceu a APAT (Associação para Pesquisa e Assistência em Transplante), uma organização sem fins lucrativos que tem uma casa de apoio para ajudar pessoas que moram fora do Estado de São Paulo a se tratarem na capital paulista. “Oferecemos moradia, assistência psicológica, médica, terapia ocupacional e remédios para pessoas doentes do fígado, rins e pâncreas que necessitam de tratamento ou transplante”, conta. A maioria das pessoas vem da região Norte do Brasil, como o Estado do Acre, que é um dos mantenedores da casa. Outra parte da renda da APAT vem da Hepato, um grupo médico especializado no estudo e tratamento clínico e cirúrgico de doenças do fígado, pâncreas e e demais afecções do Aparelho Digestivo, da qual o dr. Tércio faz parte. Outra parte da renda da casa vem de mantenedores, pessoas físicas ou empresas que ajudam com dinheiro, roupa, produtos de higiene, alimentos e remédios. Até junho deste ano, cerca de 1000 pessoas já passaram pela APAT, desde que foi fundada, em 2003. A casa tem condições de receber 10 pacientes com 10 acompanhantes.
Dr. Tércio acredita que o assunto de doação de órgãos deve ser abordado em todas as famílias. “Com o aumento do número de transplantes no Brasil, é comum as pessoas conhecer histórias de pessoas que passaram por uma cirurgia e isso sensibiliza todos a se tornarem doadores”, diz. “É intuitivo do ser humano ser doador, afinal nós nos doamos para diversas coisas ao longo da vida, e por que não na hora de nossa morte?”, completa.
Para conhecer a APAT, basta entrar no site http://www.apat.org.br/

Dr. Tércio



Histórias comoventes de superação e amor


Luciano Ferreira Matos tem apenas 23 anos. É motorista, em Rio Branco, no Acre - mas largou o emprego e a família para ajudar o tio, Eliudo da Silva, 37 anos, também motorista. “Luciano vai me doar 60% do fígado dele”, conta Eliudo. Os dois estão em São Paulo aguardando a data da cirurgia. Eliudo teve muita sorte, pois duas pessoas da família se dispuseram a doar e foram compatíveis. “Fui mesmo abençoado, pois soube de casos em que não havia ninguém da família que fosse compatível e as minhas chances eram dobradas, já que tinha duas pessoas”, fala .
Luciano diz que não está com medo da cirurgia, só quer que aconteça logo, para conter a ansiedade. “Depois da cirurgia, vai demorar 6 meses para recuperação total e aí poderei voltar a minha vida normal”, conta. Mas não se arrepende em nenhum momento da decisão. “Não pensei duas vezes no assunto, quando meu tio disse que poderia doar parte do meu fígado à ele, na mesma hora eu disse: eu topo. Não agüentava mais vê-lo doente”, conta o sobrinho. O ato de amor de Luciano comove o tio. “Não tenho como agradecê-lo, é um sonho, pois o transplante vai me trazer uma nova vida”.

Luciano e Eliudo: família unida


O técnico em eletrônica e informática, Etevalter Pereira dos Santos, 35 anos, passou por um transplante de rim há quase 3 meses. O órgão foi doado pela irmã, Marlene Pereira Soares, cozinheira. “Se existe a possibilidade de salvar uma vida, por que não?”, diz ela.
Mas a luta de Etevalter ainda continua. Ele aguarda na fila de espera, o transplante do pâncreas. Diabético há 20 anos, Etevalter conta que sofre muito com a doença, em especial por ter rejeição a insulina. “Os médicos demoraram muito tempo para descobrir, achavam que eu não fazia a dieta direito ou que deixava de tomar os medicamentos”, conta. Ele diz que já perdeu 30% da visão e tem crises de neuropatia por causa da doença. Para controlar a diabetes, ele toma um tipo de insulina especial. Agora, com novo rim, ele conta que já se sentiu melhor no dia seguinte ao transplante. “Foi maravilhoso”, diz sorrindo, com esperanças de uma nova vida
Ele aguarda a adaptação do rim e a completa recuperação para passar pelo novo transplante. “Tenho fé de que tudo vai da certo”, diz.

Marlene e Etevalter: irmãos unidos


Há 3 anos e 8 meses, Edivan Ferreira da Silva, funcionário público, estava com os dias de vida contados. “Os médicos me disseram que ele sobreviveria por apenas 16 dias”, conta a esposa dele, Maria do Socorro Barbosa, também funcionária pública. Edivan estava internado por uma complicação das doenças do fígado, hepatite e cirrose. Em 2002 descobriu a doença e começou a fazer tratamento, em Rio Branco, no Acre, cidade natal. Em 2004 chegou a SP, com crise de encefalopatia, que era provocado pelas doenças, enquanto aguardava o transplante do fígado. Foi no período que estava internado no hospital que veio boa notícia de que Edivan poderia passar por um transplante. “Os médicos disseram para a minha esposa que eu teria apenas 3% de chances de sair vivo da cirurgia, pois estava muito debilitado”, conta, emocionado. “Eu apostei no tudo ou nada”, conta Maria do Socorro. E deu tudo certo. Após o transplante, Edivan foi melhorando a cada dia. De seis em sei s meses, ele vem a São Paulo, com a esposa, para fazer uma revisão do tratamento. “Me devolveram a vida. Posso dizer que a data do meu transplante é uma outra data de aniversário”, diz. “As pessoas devem acreditar no transplante, é uma chance de viver”.

Edivan - "Um transplante salvou minha vida"